Noite do Conto e Memórias Afetivas na Escola Municipal Vila São José

    Publicado por:  Alex José Ramos de Oliveira

Na noite do dia 14/06/2022, aconteceu na Escola Municipal Vila São José, a Noite do Conto e Memórias Afetivas, enriquecendo ainda mais o projeto "Escrevivências da EJA em contos populares"*.

Ao longo de todo o processo do projeto, os estudantes conversaram, contaram histórias, contos e causos, expuseram vivências e trocaram experiências. A proposta era escolher um conto popular, e isto não foi nada fácil! Foram tantas histórias maravilhosas, ricas em detalhes e memórias de um passado saudoso. A tarefa foi cumprida com mérito pelos estudantes, além de contar, escrever, reescrever, também confeccionaram um lindo artesanato que representará o conto escolhido. Depois de finalizada a obra, a equipe da escola composta pelas professoras Josiane e Anna Fábia, pela vice diretora Rosiane e pela diretora Maria da Conceição, resolveu aprofundar estas experiências e proporcionar um desfecho emocionante e que trouxesse a tona um pouco das sensações sentidas ao longo das conversas. Foram resgatadas memórias da infância e da juventude de cada estudante e na noite do dia 14, um pouco dessas memórias foram expostas por meio de objetos que, de alguma maneira, fizeram parte da vida dos estudantes. Um verdadeiro passeio no tempo! Estiveram prestigiando o evento integrantes da Gerência de Jovens e Adultos, o pedagogo referência da escola Alex e as professoras Fabiola e Ana Paula.

Esta viagem ao passado, um verdadeiro passeio no tempo, aconteceu em dois momentos: uma conversa relembrando o conto escolhido e em um segundo momento os estudantes foram convidados para ir à uma outra sala. A sala estava escura e foi arrumada para lembrar a sala de casa. Nela haviam objetos que fizeram parte da vida de nossos protagonistas. A iluminação ficou por conta de velas artificiais e fez com que muitos relembrassem “um longínquo tempo que não volta mais”, disse João que tinha a casa de sua infância e mocidade iluminada por velas e lamparinas.

No instante em que estavam entrando na sala, foi colocada a música “Tristeza do Jeca”, de Tonico e Tinoco, alguns se emocionaram, fizeram comentários: “isso que era música, meu pai ouvia esta música todo domingo que não ia pra roça. Oh, saudade!" Exclamou Santina. Os objetos existentes no cenário eram variados e fruto de pesquisa das pessoas envolvidas para proporcionar uma noite emocionante para os estudantes: binóculos de fotos, máquinas fotográficas, cédulas de dinheiro antigas, aparelhos de telefone, máquinas de costura com pedalinho, panelas de barro e de ferro, caldeirões, pratos e canequinhas de ferro, louças de época, baleiro, televisão de tubo, rádio relógio e rádio que lembrava a era do rádio, discos, colheres de pau, paninhos de enfeite, toalhinhas de crochê, bibelôs, pé de ferro, ferro de passar roupas esquentado com brasa dentro, carrinhos lembrando os meios de transporte da época etc.

Os estudantes andavam pelos lugares onde os objetos estavam dispostos, tocavam e pegavam para olhar tecendo comentários, lembrando de lugares, de pessoas, despertaram memórias afetivas de tempos saudosos. A professora Josiane pediu, então, para que os estudantes sentassem nas cadeiras dispostas em círculo. Depois pediu para que levantasse um a um, andasse pela sala, pegasse um objeto e falasse sobre ele. Com os objetos em mãos, tinham que responder às perguntas: “O que este objeto representa pra você? Que memórias ele te traz? O que ou do que você lembra quando olha pra ele? As perguntas foram lançadas e não demorou muito para que todos começassem a falar. Olhar os objetos transportou Dona Nilce para a casa dos pais e, emocionada, pegou um prato e disse: ”Parece que estou vendo a minha mãe aqui, colocando comida pra nós e servindo a gente.” “ Era em um bule igual a este aqui que o meu pai fazia café pra nós” ( Simoni); emocionado, Juarez falou “em um caldeirãozinho como esse eram feitas muitas carnes de porco do sítio do meu pai”. Para Eva o que mais lhe chamou a atenção foi a televisão de tubo: “a primeira televisão que eu tive era igual a esta e eu comprei em um consórcio.” Angela também lembrou que na sua casa “havia uma televisão dessa com tubo atrás”. Tudo chamava a atenção e impactava de forma positiva. “Professora, onde você conseguiu esse rádio? Ele é igualzinho ao que meu pai tinha e ouvia músicas, notícias. A gente ficava horas ali ouvindo e ficava bobo querendo saber de onde vinham as vozes”, comentou com lágrimas nos olhos, Santina. Para João o que mais marcou foi voltar ao tempo de menino e lembrar “do tempo em que pegava brasa e colocava dentro do ferro para a mãe passar a roupa, porque naquele tempo não tinha eletricidade nas casas, não professora.” A estudante Atercila ficou feliz ao contar que “aquele fusquinha azul lembrava o primeiro carro que ela teve na vida.” A noite foi finalizada com uma roda de viola e, posteriormente, um lanchinho foi servido à moda do interior: bolo de milho, laranja, mandioca, broa com banha de porco, canjica, cafezinho e chá. Uma mesa farta rodeada por pessoas animadas, emocionadas e muito felizes por estarem ali e poder ter participado deste momento. "Foi uma noite de muita emoção e impactante, tudo maravilhoso, nem imaginava que isso pudesse acontecer comigo um dia”, disse Eva quando a Noite do Conto e Memórias Afetivas chegou ao fim.

 

*O projeto

A equipe da Gerência da Educação de Jovens e Adultos, da rede municipal de Educação de Curitiba, lançou mais uma edição do projeto "Escrevivências". O termo escrevivência foi tomado por empréstimo de Conceição Evaristo, ilustre escritora e pesquisadora brasileira, que, em 1995, imprimiu esse significado a partir das palavras escrever e viver. Segundo Evaristo, foi no jogo de palavras entre “escrever, viver, escrever-se vendo e escrever vendo-se que surgiu a palavra escreviver”.

Neste ano o tema do projeto é "Escrevivências da EJA em contos populares", que tem como objetivos propiciar aos estudantes reviver histórias da infância, contadas pelas mães ou avós, gerando um sentimento de inclusão, de pertencimento à cultura letrada que tantas vezes se mostra inacessível. Esta experiência permite aos estudantes estimular a expressão oral e escrita e a criatividade, assim como o gosto pela leitura devido a sua linguagem direta e simples.

Para enriquecer ainda mais esse projeto, a Escola Municipal Vila São José foi além, propiciando aos estudantes uma noite inesquecível.

Autor: Rosiane Lima de Oliveira Silva | Fonte: EM Vila São José
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Estudantes da EM Vila São José, com os professores e equipe diretiva
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