Equidade: Projeto da Prefeitura promove apoio diferenciado em 47 escolas

    Publicado por:  Vanessa Viol Moretti

Tratar da mesma forma situações que são diferentes pode ser cômodo e menos trabalhoso, mas em geral é um caminho para acentuar a desigualdade. Curitiba decidiu romper com essa lógica na rede municipal de ensino e para isso lançou nesta sexta-feira (13) o projeto Equidade na Educação. Fruto de dois anos de pesquisas e avaliações, o projeto será implantado inicialmente em 47 escolas municipais e envolve estratégias diferenciadas para cada realidade, de forma a minimizar fatores capazes de dificultar o percurso escolar das crianças egarantir o efetivo direito à aprendizagem.

Lançado como parte das comemorações do aniversário de Curitiba, em cerimônia na Escola Municipal Itacelina Bittencourt, no bairro Guaíra, o projeto Equidade pretende ser mesmo um presente para a cidade, na medida em que reduzir a desigualdade significa ampliar as condições para o desenvolvimento. “Há fatores de fora de sala de aula, de fora da escola que interferem muito no desempenho escolar dos estudantes. Esse projeto desenvolverá ações capazes de garantir que a partir da escola estas crianças possam transformar as suas vidas. O projeto buscará um equilibro entre as escolas da rede a partir do reforço e acompanhamento de ações”, disse o prefeito Gustavo Fruet.

O ponto de partida do projeto é o reconhecimento das diferenças entre as escolas, tanto no nível de aprendizagem dos alunos quanto no aspecto sociocultural do entorno, que tem forte influência no desenvolvimento educacional. As 47 escolas da primeira fase do Equidade foram escolhidas com base em uma uma média cluster, calculada por pesquisadores da Secretaria Municipal da Educação a partir do cruzamento de dados como o desempenho dos estudantes na Prova Brasil, do governo federal; o Índice de Desenvolvimento Básico da Educação (Ideb); a taxa de aprovação dos estudantes; a taxa de analfabetismo no entorno da comunidade escolar; o número de estudantes beneficiários do programa federal Bolsa Família, de beneficiários do Bolsa Família com baixa frequência e da renda média domiciliar per capita do entorno da comunidade escolar.

Esse grupo de escolas reúne aproximadamente 26 mil alunos do ensino fundamental, ou seja 26% dos estudantes da rede municipal. 

“Estamos rompendo com a lógica vinculada a medidas baseadas apenas no mérito, visto que identificamos um grupo cujas experiências e vivências de suas os colocam em condições inferiores de partida no percurso de escolarização”, diz a secretária municipal da Educação, Roberlayne Borges Roballo. 

Se a origem desigual dos indivíduos não for observada, as diferença sociais podem ser ampliadas, inclusive na escola. “Oferecer o mesmo a todos os estudantes não garante o direito, ao contrário, pode acentuar a injustiça.Alguns estudantes precisam de mais recursos que outros para chegar ao mesmo desempenho e é papel da escola trabalhar de acordo com essa realidade”, diz Roberlayne.

“Equidade educacional significa oferecer para todos e a cada um o necessário para sua emancipação social”, diz a coordenadora do projeto, Simone Cartaxo. Para garantir a equidade, destaca, é preciso reconhecer que algumas escolas precisam de mais apoio e, em alguns casos, de ações emergenciais para garantir a todos os estudantes o direito à aprendizagem.

Na prática

Os dados preliminares do projeto foram apresentados nos dias 5 e 6 de março para as escolas envolvidas. As primeiras ações incluem oferta diferenciada de reforço escolar, ampliação de projetos literários, culturais e esportivos nas escolas, e estímulo cada vez maior ao envolvimento das famílias na vida escolar.

Entre as estratégias do projeto também estão a mobilização dos profissionais das escolas, a apresentação de uma nova proposta de acompanhamento integrado de metas, além de ações que serão criadas para cada escola, a partir de suas especificidades e necessidades. Cada escola contará com um professor formador para colaborar e acompanhar o trabalho. Será um profissional do respectivo Núcleo Regional de Educação que receberá uma formação específica e servirá como referência para a escola no projeto.

Seleção das escolas

Para chegar à média cluster que indicou as 47 escolas incluídas no projeto, a equipe trabalhou na leitura e interpretação de dados apresentados nas avaliações dos estudantes de forma articulada, buscando compreender as múltiplas variáveis que influenciam os resultados. Essas definições apontaram as assimetrias da desigualdade e a concentração das escolas com necessidade de intervenção emergencial. 

A maioria localiza-se em territórios de vulnerabilidade ou fragilidade social. Outras não, o que demostra a importância da avaliação aprofundada sobre cada realidade e a elaboração de planos de metas individualizados.

Em algumas escolas a proficiência dos estudantes em determinados componentes curriculares será o foco inicial do trabalho. Outras apresentam média maior nas avaliações, mas o analfabetismo ao entorno da escola traz implicações para o desenvolvimento dos estudantes, e por isso será o alvo das ações.

A elaboração das metas e o desenvolvimento das ações práticas envolverão profissionais da escola, do núcleo regional da educação e da Secretaria Municipal da Educação. “Esse é um projeto que faz de todos os integrantes da comunidade escolar – profissionais, estudantes e familiares – partícipes fundamentais do processo educacional”, diz a diretora do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal da Educação, Letícia de Mara Meira.

Diretoras das escolas envolvidas no projeto Equidade consideram um ato corajoso da gestão assumir critérios para uma intervenção como nunca antes foi feita. “O projeto não resolverá todos os problemas que interferem na educação, porque muitos deles não dependem exclusivamente do município, mas é um passo maravilhoso que traz para as escolas uma visão diferenciada daquela que se limitava a melhorar o desempenho Ideb”, diz a diretora da Escola Municipal Vila Torres, Cristina Estela Marques da Silva.

Vulnerabilidade

Se o objetivo fosse apenas a conquista de melhores índices nas avaliações nacionais, a escola dirigida por Cristina, localizada no Prado Velho e que atende 550 estudantes do 1º ao 5º ano, nem estaria entre as incluídas no projeto. O índice da escola no Ideb (5,1) não é dos mais baixos, porém o índice de vulnerabilidade social no entorno é elevado, com 65% dos estudantes inseridos no programa Bolsa Família. É a escola da rede municipal com o maior percentual de crianças beneficiadas pelo programa Bolsa Família ?“A equipe da escola está com perspectivas muito positivas para um excelente trabalho”, disse Cristina.

O projeto tem diferentes fases e começa com três ações concomitantes: formação pedagógica do professor formador (cada escola terá um professor formador), diagnóstico da realidade escolar e a mobilização sobre os fundamentos do projeto. Na segunda fase serão definidas as metas e ações que serão desenvolvidas em curto prazo nas escolas. Essa etapa contará com a participação da comunidade e com a validação do Conselho de Escola. Metas de médio e longo prazos também estão previstas e envolverão ações da escola com a comunidade escolar, com diferentes órgãos da administração municipal e com instituições parceiras. 

Itacelina

A cerimônia de lançamento do projeto na escola foi acompanhado por centenas de crianças, pais de alunos, funcionários da escola e pelas equipes das demais escolas incluídas no projeto. “Estamos radiantes com o projeto que certamente contribuirá para que possamos chegar ainda mais longe no que se refere ao desenvolvimento de nossos estudantes”, disse a diretora da escola Municipal Itacelina Bittencourt, Raquel Zandomenighi.

Na escola são atendidas 467 estudantes, em turmas de pré-escolar até o 5º ano. A grande maioria dos alunos vem de bairros vizinhos, como o Parolin, com transporte gratuito para terem acesso à educação. A renda per capta média das famílias dos estudantes é de R$ 976,72 e 39,5% dos estudantes pertencem a famílias beneficiárias do Bolsa Família. “Já fazemos tudo o que a escola pode e até um pouco mais. O projeto Equidade traz a expectativa de um trabalho integrado com outras áreas e que será fundamental para o sucesso de nossos alunos”, disse Raquel.

Também estiveram presentes à cerimônia de lançamento o vereador Paulo Salamuni e o integrante dos Fóruns Nacional, Estadual e Municipal da Educação, Toni Reis, a secretária municipal da Mulher, Roseli Isidoro, além dos repórteres mirins do jornal eletrônico Extra Extra!, da escola Municipal CEI do Expedicionário, que entrevistaram o prefeito Gustavo Fruet.

Postado por: TÁLITA RASOTO

Fonte:http://www.cidadedoconhecimento.org.br/

Autor: NRE Portão | Fonte: http://www.cidadedoconhecimento.org.br/
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