Nancy: Ah, é só no futebol, a gente dá risada. Como meu marido sempre diz: a gente nunca sofreu discriminação.
JE: E de crianças, você gosta?
Nancy: Gosto, claro. Tive cinco, né? (Risos) E agora tenho dois netos.
JE: Em qual idioma você e sua família se comunicam em casa?
Nancy: Só espanhol, ou seja, o castelhano. Porque depois de um tempo percebemos que estávamos esquecendo algunas
palavras. Então resolvemos em casa só falar espanhol.
JE: E para os pequenos, como fica isso de falar espanhol no Brasil?
Nancy: Quando viemos para cá meu filho menor tinha dois anos, não falava nem português nem espanhol. Aprendeu aqui as duas línguas. O menor agora, de quatro anos, pode estar falando comigo em espanhol e se virar e falar com você em português... ele sabe diferenciar.
JE: Você já voltou para a Argentina depois de ter se mudado para o Brasil?
Nancy: Já voltei várias vezes. Há cada dois ou três anos a gente vai à Argentina nas férias. Agora faz uns quatro anos que não vou lá.
JE: E você sente falta de sua família, dos amigos?
Nancy: Da família eu sinto, sim. Amigos, tenho mesmo é aqui.
JE: Você está inteirada da política atual da Argentina?
Nancy: Minha filha conseguiu sintonizar a rádio Mitre da Argentina pela internet, e eu gosto de ficar ouvindo rádio enquanto faço o
serviço de casa. E aí a gente se informa do que acontece lá, não? Fiquei sabendo que lá faz cinco dias que não tem luz, um apagón. E os parentes também reclamam um pouco, dos preços altos, salários baixos... fazem panelaço para que a presidenta não se reeleja.
JE: Você costuma preparar os pratos típicos da Argentina na sua casa?
Nancy: Sim, sempre, todo dia eu faço um prato argentino! Lá em casa não se come arroz e feijão... Uma vez por mês meu marido
pede: “faz um feijão”, aí eu faço porque meu marido gosta. Meus filhos casados sabem que podem ir lá em casa quando querem comer uma comida argentina porque sempre tem.
JE: E quais as comidas típicas da Argentina que você gosta?
Nancy: Empanada, Locro, que é como se fosse uma feijoada, mas em vez do feijão a gente usa milho branco; Milanesa com Papas fritas, Bolita de fraile ...
JE: Sua família, seus filhos... eles querem voltar para a argentina?
Nancy: Non, só de férias, visitar todo mundo. Curitiba é muito bom para se viver.
JE: E a música e outras coisas da cultura, você sente falta?
Nancy: É bom que tem internet agora. Nos domingos, meu marido acorda cedo e coloca as músicas folclóricas argentinas, e passamos o dia todo ouvindo música de lá. Então...
JE: E o futebol? Vocês tem time aqui?
Nancy: Meu marido torce pelo Atlético aqui, lá pelo River Plate. Eu não gosto, mas se jogam Brasil e Argentina, eu torço pela Argentina, colocamos bandeira, soltamos foguete, não tem problema, todo mundo sabe que a gente é de lá.
JE: Você diz que gosta muito daqui, que não volta mais pra lá, mas, o que tem de bom lá que não tem aqui?
Nancy: Eu sofri muito no começo por causa das comidas, a carne, por exemplo, é diferente, lá é muito macia, aqui não, lá nem
se usa panela de pressão, não precisa. Mas já me acostumei. Mas tem um costume nosso que não quero que tirem porque é muito bonito. Os argentinos homens: pais, filhos, amigos se beijam quando se encontram. Meu marido beija seus amigos, é um gesto de carinho, de quem se gosta. Um dia destes, na oficina, um colega de meu marido foi cumprimentá-lo e lhe deu um beijo no rosto. Todo mundo ficou assombrado. Mas alguém disse: “ele não é gay, é argentino”.
Redação: Alunos Samuel Ortega e Raquel Franco, e Prof. Luciane Heleno
*Reportagem originalmente publicada no Jornal Mural EMPEP. Edição 002, Novembro/Dezembro 2012. O Jornal Empep é um projeto que utiliza conceitos de Educomunicação para o desenvolvimento educacional e cidadão dos alunos.