Dias das mães: algumas dessas heroínas são professoras

    Publicado por:  Claudia Pereira Muniz

Dizem que toda professora é um pouco mãe. Talvez porque além de ensinar escrita, leitura, números e interpretação, por vezes, elas também criam vínculos afetivos com seus alunos. Carmem Lúcia Brun, professora da rede municipal de ensino há mais de 30 anos, já perdeu as contas de quantos estudantes fizeram parte de sua vida mas, não nega que todas as experiências partilhadas no ambiente escolar a tornaram melhor mãe, melhor profissional e melhor ser humano.

“A maternidade é uma experiência transformadora. Sentir o amor mais infinito, o afeto mais puro e o instinto de proteção mais forte é algo arrebatador”, afirma Carmem. No entanto, ela ressalta que nem sempre ser mãe significa ter uma família formada por laços sanguíneos. Além de educar e cuidar de centenas de curitibinhas, ao longo de seus 53 anos de idade, Carmem Lúcia, também teve 10 filhos, sendo um deles “gerado pelo coração”.

Muito jovem ainda, a professora iniciou sua carreira em um dos primeiros Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) da cidade, o CMEI Demawe, no Bairro Xaxim. Nesta unidade, Carmem descobriu o quanto é importante o papel de um educador na vida de uma criança porque é uma pessoa em formação e “tudo o que fizer fará parte da sua história”, afirma ela.

Parafraseando Cora Coralina, “Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”, a professora reforça que a formação escolar é para toda a vida e por isso sempre esteve atenta ao comportamento de cada aluno em sala de aula, buscando sempre saber como ajudá-los. “Sorrir, calar-se, brigar, falar muito ou pouco, ter amigos ou andar sozinho. São coisas que mães e professores estão muito acostumados a observar”, conta ela.

Aos 22 anos, Carmem já tinha uma profissão consolidada, prestou concurso público, atuou também nas escolas Paranavaí, Professora Tereza Matsumoto, Madre Teresa de Calcutá e Helena W. Antipoff, todas localizadas, no Boqueirão. Neste período, já era mãe de 4 filhos e a vida começava a lhe exigir escolhas. “Eu trabalhava o dia todo e senti o desejo de estar mais com os filhos, optei em trabalhar 4 horas”, disse.

Eram seis...

A vida andava em perfeita calmaria até uma grande novidade agitar toda a família. Carmem anunciava sua quinta gestação com a chegada de gêmeos. Foi um período de ajustes e preparativos para que filhos e profissão caminhassem alinhados com a mesma dedicação, amor e profissionalismo de antes.

Após a gestação, Carmem ousou novos voos: ampliou carga horária, especializou-se na profissão e passou a dar aulas em universidades. Mesmo com todas as dificuldades ela estava ciente de que seus filhos lhe davam sabor à vida e cada vez que alguém dizia “mais dois”, ela respondia “sim, e serão tão bem cuidados e amados como os outros tantos que tenho em sala de aula”.

Nasce uma heroína

Sempre forte e sorridente ela não esmoreceu ao descobrir que estava com câncer e quando todos pensavam que a vida já lhe era um fardo, Carmem agarrou com força todas as oportunidades de tratamento para sobreviver.

“O desejo de viver para ser a Mãe dos meus filhos me impulsionou a ter alegria todos os dias, em casa, na escola com meus alunos e minhas companheiras de trabalho”, destaca a professora.

Os anos se seguiram e Carmem estava curada. Pronta para viver intensamente cada minuto de sua vida. Os filhos foram crescendo e outros 3 novos membros chegaram. Como ser professora sendo mãe de 9 crianças? Essa era a pergunta que mais ouvia entre os colegas de trabalho. “Eu já era mãe de centenas de crianças e me fortaleci por fazer a diferença na vida de cada um deles. Faria o mesmo com os que gerei”, contou ela.

Ana Paula Brun, de 21 anos, também é professora e filha de Carmem Lúcia. Ela lembra que estudava na Escola Municipal Paranavaí onde a mãe atuava como pedagoga e lá aprendeu com ela a olhar com atenção para cada criança. “Os alunos sempre gostaram da minha mãe. Eles diziam que ela se preocupava com o desenvolvimento de cada um, com a realidade que viviam fora da escola e que era sempre alegre”, afirma Ana.

O filho mais velho, Fabrizio Carlo Brun, 30 anos, destaca que todas as dificuldades da vida transformaram sua mãe em uma heroína. “Minha mãe teve que fazer escolhas difíceis na vida e mesmo assim conquistou vitórias memoráveis, venceu o câncer, é uma heroína”, disse.

Um amor de presente

A matriarca dessa grande família nunca deixou de aprender com as dificuldades e ser grata por cada dia bem vivido junto aos seus. Com seus 9 rebentos nem dá contar quantas foram as noites mal dormidas, as idas e vindas em busca de remédios, os ajustes de roupas para servirem para o outro irmão, as lições  sobre certo e errado, os ensinamentos sobre valores, a quantidade de mamadeiras e refeições preparadas e até mesmo a quantidade de afagos depois de uma queda.

Tudo é muito quando se tem 9 filhos. Mas, e se fossem 10?. Sim, dessa vez foi um espanto. Carmem e o marido resolveram adotar um menino de 12 anos. O segundo filho, na época com 14 anos, esbravejou “vocês já tem muitos filhos!”, outro disse “vocês estão loucos!” mas, uma voz estridente e firme entre eles chamou a atenção. Era o filho mais velho ensinando os menores a serem solidários e gratos.

“Eu sempre tive o amor da minha mãe e sei da importância dela em nossas vidas. Naquela situação, quem seria eu pra negar uma mãe a alguém que precisava tanto”, destacou Fabrizio.

Um ditado popular ajudou os pais a iniciarem a conversa “Explicamos que onde comem 9 podem comer 10 e que o novo irmão era um amor de presente para toda a família”, disse Carmem. Com os filhos todos reunidos, a professora explicou que queria que o menino seguisse seus estudos, vivesse em família e recebesse amor, proteção, carinho e cuidados.

"Eu me sinto muito feliz de ter sido adotado. É uma honra fazer parte desta família que me acolheu de braços abertos!", afirma Brendo Rodrigo Baptista, o filho gerado no coração de Carmem Lúcia.

Carmem ganhou experiência, tornou-se pedagoga, foi diretora escolar por quase 17 anos, pedagoga referência, no Núcleo Regional de Ensino do Boqueirão. Recentemente, aposentou-se e encerrou sua carreira na Rede Municipal de Ensino de Curitiba, no entanto, segue firme na docência, ensinando e distribuindo amor por onde passa.

E os 10 filhos? Estão todos bem. Tem professor de história, arquiteto, administrador, professora de educação infantil, outros na faculdade. Todos aprenderam a batalhar na vida e seguem recebendo o amor eterno de sua mãe.

   

Autor: SME | Fonte: SME
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