Compartilhando percursos e aprendizagens

    Publicado por:  Karin Cristina Coradin

O ano de 2020 foi realmente desafiador. Iniciamos com todas as turmas e fomos realizando nossos primeiros encontros com a equipe e com as crianças. Fizemos café com as famílias, vacância da APPF, reuniões presenciais. Porém, a pandemia nos pegou de surpresa. Com a surpresa veio o medo, a insegurança e as incertezas, que foram sendo equilibradas no decorrer do ano. De lá pra cá, tivemos que reaprender quase tudo. Percebemos uma lógica inversa das realidades, onde o que era perto ficou longe e o que era longe ficou perto. Eu já vou me explicar.

Antes nossa rotina era em meio às crianças, agora é mais próxima dos adultos e são eles que nos conectam com os pequenos. Quem era apegado aos materiais físicos passou a se tornar mais próximo do mundo virtual. E os momentos de estudo, antes difíceis pela organização do cotidiano, começaram a ser constantes. Com as mudanças, todos precisamos nos REorganizar, REaprender, REinventar, REcomeçar, REnovar, ... Passamos a perceber que a vida cotidiana vai acontecendo ao mesmo tempo em que a gente fica em casa, trabalha e estuda... coisa que a gente nem notava! 

Um novo jeito de ser professor foi exigido quase que automaticamente de todos nós. Videoconferências, videochamadas, teletrabalho, videoaulas, relatórios, planilhas... A equipe toda precisou aprender sobre cada uma dessas coisas.

Com o distanciamento, passamos a aproveitar e nos dedicar ainda mais às raras oportunidades que tínhamos de reencontrar crianças e famílias, organizando com carinho o espaço e os materiais para estes momentos.

Aprendemos a lidar com ferramentas diversas... (Santo Google!)... GMail, Drive, Sala de aula... Ferramentas para trabalhar e para validar nosso próprio trabalho. Usamos a Sala Google como ferramenta de estudo para levar em frente o projeto de formação, que tinha como foco o Currículo, recém lançado.

Percebemos grande adesão da equipe com relação às múltiplas oportunidades de formação que descobrimos aqui e ali, com profissionais locais e de tantos outros lugares, incluindo o Veredas Formativas e a SEP do CMEI, que foi sobre saúde mental. A Expo Educação Digital merece, seguramente, um grande destaque nesse percurso de aprendizagens à distância.

Nós também acompanhamos diariamente as videopropostas direcionadas à educação infantil. Crianças e profissionais abraçaram muitos dos desafios de criatividade propostos, e constantemente compartilhamos fotos e vídeos de suas descobertas, brincadeiras e produções. O desafio de atingir a todos é imenso. Algumas crianças não acompanham diariamente, outras assistem raramente... e há inúmeras explicações para isso. Falta de tempo do adulto, falta de interesse da criança, aulas muito longas, pouco tempo para realizar as propostas, falta de materiais, atividades que as crianças não conseguem acompanhar... Enfim! Para cada dificuldade, vamos pensando em algumas saídas junto às famílias. Vamos conversando, trocando ideias, pensando em estratégias e buscando ajudar caso a caso.

Já que estamos falando sobre o contato com as famílias, ressaltamos que ele é intenso, e é diário, por intermédio, especialmente, do WhatsApp Business. Este é, sem sombra de dúvidas, o principal instrumento de comunicação neste momento. Enviamos mensagens em lista de transmissão (para preservar famílias e servidores), conforme a necessidade de cada momento para cada turma. Enviamos fotos das professoras organizando os kits pedagógicos, lembretes, informes diversos, curiosidades e até dicas culturais e de segurança. Repensamos alguns itens do plano de ação de 2020 para que pudessem acontecer remotamente, e muitos tópicos do nosso plano de ação deste ano contemplam ações neste formato.

Também fazemos uso da página do CMEI no Portal das Unidades Educacionais, onde compartilhamos algumas notícias com fotos que narram as aprendizagens de todos - crianças e adultos.

Entretanto, assim à distância, continua difícil acompanhar as aprendizagens das crianças. Mesmo com o feedback virtual das famílias, as fotos, vídeos e relatos que nos encaminham periodicamente, e ainda conversando pessoalmente nos momentos de entrega de kits, foi preciso lançar mão de outra ferramenta digital, o Google Forms, para enviar questionários breves sobre o cotidiano e sobre o desenvolvimento dos pequenos, o que nos ajuda a narrar seu desenvolvimento, suas aprendizagens e experiências constituindo os pareceres descritivos e portfólios.

Paramos um pouco de falar sobre o atendimento à distância para comentar sobre o tão esperado momento do reencontro, ocorrido em fevereiro deste ano. Muito acolhimento, gentileza, cuidado, segurança, higiene, precauções, incertezas, ... Uma semaninha só, que não foi nada fácil, mas já foi de grande valia para perceber fragilidades e potencialidades frente ao desconhecido. Como seria atender presencialmente? E SE a família trouxer a criança na semana errada? E SE a gente ligar o ventilador? E SE as crianças se tocarem? E SE perderem a máscara? Muitos “SEs” foram aparecendo, mas fomos organizando tudo para que cada um tivesse seu espaço com segurança. Resistência? Sim, tivemos. Mas com conversa e acolhimento, enfrentamos.

Algumas equipes se permitiram explorar os espaços ao ar livre, outras preferiram a segurança e a assepsia do ambiente interno. As crianças estavam muito ansiosas pelo retorno, algumas tão eufóricas pelo reencontro com os colegas, com os brinquedos, com o parque, com as explorações na coletividade... que foi muito sofrido pra gente cercear alguns de seus impulsos.

Com a retomada do atendimento remoto, retornamos ao planejamento e à produção dos kits pedagógicos. Aqui, salientamos que nosso principal investimento junto à equipe foi com relação ao entendimento de que as propostas complementares são o que melhor nos ligam às crianças neste momento, e destacamos a evolução do trabalho das equipes. Em cada kit, procuramos explicar qual a intenção da proposta, trazer inspirações para as criações, confeccionar materiais que despertem o interesse a ajudem a criança nas explorações e descobertas, disponibilizar todos os materiais necessários e abordar diferentes linguagens para além da brincadeira, que está sempre presente em nossas propostas. As famílias tem colaborado muito, e trazido até nós esses retornos.

A adesão à retirada dos kits é maior quando está agregada à entrega dos kits de alimentação. Isso é fato, embora o recado seja sempre dado com a mesma dedicação. Entretanto, mesmo as crianças menores que não tem o compromisso de devolver as propostas como as crianças do pré, têm apresentado maravilhosos retornos, o que nos prova, veementemente, que a educação não parou!!! Seguimos trabalhando e avançando sempre. Nossas crianças seguem aprendendo e se desenvolvendo e a gente segue aprendendo a caminhar caminhando, tal como disse Paulo Freire:

 "Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar."

Estamos vivendo um tempo sem precedentes. Um tempo único e desafiador, que nos proporciona muitas oportunidades de aprendizagem, ansiedade e incertezas, mas também um tempo de esperança, com perspectiva de um retorno em breve.

Autor: Karin Cristina | Fonte: Karin Cristina
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