Aulas de campo - São Paulo - Possibilidades de expansão do repertório leitor e cultural dos profissionais da educação!

    Publicado por:  Gizeli de Fátima Cordeiro Bento

Aulas de campo – São Paulo - Possibilidades de expansão do repertório leitor e cultural dos profissionais da educação!

 

Para a Gerência de Faróis e Bibliotecas da Prefeitura de Curitiba, a aula de campo é uma prática pedagógica cujo caráter é o de levar as pessoas a uma vivência ambiental, oportunizando o conhecimento dos espaços e seus desdobramentos por meio de diversos estímulos. Deste modo, compreende-se de fundamental importância a experiência gerada a partir dos eventos literários e culturais propostos aos profissionais que atuam na Gerência de Bibliotecas Escolares e Faróis do Saber (central e regionais) e agentes de leitura (Faróis do Saber). Como coloca Galeno Amorim:

 

[...] as bibliotecas, mesmo tais como são, precisam buscar leitores, seja por algum tipo de promoção, seja por uma ampliação de seu caráter, tornando-se mais próximas da atuação de centros culturais, onde esteja, sobretudo, o livro, mas todos os suportes de leitura, além de outras manifestações culturais e artísticas – tudo isso que se configuram, nos tempos atuais, como formas também importantes de leitura. (AMORIM, 2008, p. 56)

 

Percebendo a função social e cultural das bibliotecas, busca-se ampliar seus serviços de forma mais abrangente possível. Logo, a participação dos profissionais da educação nos eventos apontados a seguir contribui na ampliação das questões relacionadas à leitura, à escrita e às políticas pertinentes. Prioriza-se a vivência literária e artística como experiência estética, considerando as potencialidades que esta ação tem para o desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes.

No dia 09 de Agosto de 2022, os profissionais da Secretaria Municipal da Educação, Equipe da Gerência de Faróis, Agentes de Leitura das Bibliotecas Escolares, Faróis em Praça e Gestores da Informação das dez regionais, embarcaram para capital do Estado de São Paulo, para a realização de visita monitorada a espaços culturais, a fim de promover a reflexão e a discussão sobre a produção artística e literária contemporânea, bem como, a ampliação dos conhecimentos acerca da mediação de espaços culturais, apresentação de acervo, organização de momentos culturais, dentre outros. Por apoiar o acesso contínuo à formação por parte dos agentes literários e com isso, o respectivo ganho à comunidade e público em geral, a Gerência de Faróis e Bibliotecas busca o incentivo de práticas dinâmicas com o intuito de reiterar o papel da biblioteca como um espaço dialógico, múltiplo, acessível e inclusivo. Após a experiência formativa, em formato de aulas de campo e acesso à espaços culturais, tem-se a convicção de ações ainda mais enriquecedoras em prol do público e do aproveitamento do espaço coletivo da biblioteca.

A primeira atividade cultural na capital Paulista, na Oca do Parque Ibirapuera, foi a visita à  exposição “A Beleza Sombria dos Monstros”, que retrata a vida e obra de Tim Burton, a partir dos treze capítulos do livro “Art of Tim Burton”. Pudemos acompanhar neste espaço os personagens, histórias e propostas apresentadas por meio do uso das tecnologias, múltiplos ambientes interativos e de uma experiência imersiva. A proposta é que o visitante possa adentrar nas ideias do cineasta norte americano como se estivesse atravessando os capítulos de um livro. Já no prólogo, nos deparamos com uma sala escura com projeções que remetem à infância do artista. No capítulo 1, pode-se verificar várias criações com o uso de técnicas como o teatro de sombras, espelho mágico e flipbook (atividades que podem ser realizadas na escola, como recursos lúdicos em momentos de leitura e contação de histórias, com possibilidade ainda de parceria com a professora de Artes). No capítulo 2, acompanhamos a paixão de Tim Burton por ficção científica, utilizando óculos em 3D para ver as criaturas. No capítulo 3, a experiência nos convida a ver através de um periscópio, no qual podemos observar pessoas e criaturas do universo de Burton. O capítulo 4, apresenta os animais na obra do cineasta e nos convida a brincar em um painel imantado (nesta sala surgiram várias ideias de implementar uma experiência assim na escola). O capítulo 5, é um ambiente de luz e sombra, no qual pudemos ver nos painéis luminosos várias criaturas, grotescas, curiosas e instigantes. O capítulo 6, traz uma projeção com filme de palhaços, fantoches e bonecos, trabalhando com o medo que habita nossas mentes. O capítulo 7, faz um convite aos participantes para desenharem e realizarem suas próprias criações e invenções. No capítulo 8, entramos em uma sala escura onde vimos um holograma “A melancólica morte do menino ostra e outras histórias”. No capítulo 9, vemos as criações por meio de uma espécie de visor turístico. No capítulo 10, temos o retrato do amor, uma sala ambientada com girassóis que remetem a Van Gogh, mas com toque único, o que sustenta as flores é um arame farpado. No capítulo 11, encontramos a sala que mescla o dia feliz (luz) e o horror (sombra). No capítulo 12, chegamos à sala de espera dos mortos com base no Filme “Beetlejuice”, onde vivenciamos uma experiência de realidade virtual. Por fim, no capítulo 13, aprecia-se um filme em 3D que retrata as experiências da vida após a morte. A exposição é fabulosa, muito bem construída e nos leva a uma viagem pela arte permitindo apropriação dos conteúdos que poderão ser adaptados em nossos espaços e formações aos agentes de leitura.

No dia 10 de Agosto, nossas atividades iniciaram no Museu da Língua Portuguesa. Realizamos uma visita guiada (o grupo foi dividido pelos mediadores) que esclareceu sobre as raízes e origens da língua portuguesa. O museu, que sofreu um incêndio em 2015 e retornou suas atividades em 2021, faz uso da tecnologia e de suportes interativos para construir e apresentar seu acervo, mostrando a língua em suas variadas vertentes e como patrimônio imaterial. É possível ouvir diferentes sotaques, descobrir a origem de diversas palavras e caminhar pela Rua da Língua, onde apreciamos desde construções poéticas até frases descritas em parachoques de caminhão. A visita guiada realizada por um profissional especializado fez toda a diferença nas percepções do ambiente e história da língua. Observar e refletir sobre os aspectos da construção linguística nos permite planejar ações que tragam mais diversidade cultural aos frequentadores/leitores/estudantes. Além disso, as propostas interativas demostradas no museu, podem ser deslocadas para outros tipos de materiais e realizadas com os estudantes (jogos de carta; de onde vem essa palavra?, etc).

 Ainda nesta manhã, pudemos atravessar a rua em frente ao Museu da Língua Portuguesa e adentrar a Pinacoteca de São Paulo, com seus amplos corredores, repletos de obras de arte, diversos materiais, tempos históricos e recursos. Chama a atenção a exposição do acervo de arte brasileira que ocupa 19 salas do Edifício Pinacoteca Luz, incluindo cerca de mil obras de mais de 400 artistas, entre eles Tarsila do Amaral e Cândido Portinari. A biblioteca hoje é vista também como um centro cultural, então ter a oportunidade de vivenciar a arte em suas diversas formas faz parte das novas propostas pensadas para este espaço.

No período da tarde, seguimos para a visita no próximo espaço cultural a Biblioteca Parque Villa Lobos. Seu prédio foi construído na área do antigo depósito de resíduos da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (CEAGESP), como revitalização do espaço urbano. O grupo foi dividido pelos mediadores para iniciarmos o reconhecimento dos espaços que compõe toda a estrutura da biblioteca. Visitamos a seção infantil, que utiliza livros recomendados por faixa etária a seus sócios. Os materiais são todos classificados e identificados por etiquetas. Chama a atenção o mobiliário da biblioteca, com estantes móveis que podem ser transportadas e de altura adequada a cada público que frequenta a biblioteca. Outra seção que se destaca é de 18+, na qual os livros são classificados para maiores de idade. A biblioteca ainda conta com espaço para jogos, videogame e acesso gratuito à internet por duas horas diárias a todos os seus sócios. O acervo é formado principalmente por literatura, e os itens são incorporados por meio de uma política de desenvolvimento de coleções, mas conta também com revistas, jornais, livros eletrônicos, HQs, DVDs e CDs e livros em braile, para pessoas com deficiência. Também há ampla aparelhagem tecnológica relacionada a acessibilidade. Para além de seu acervo, a biblioteca promove diversas atividades culturais, como clube de xadrez, cursos relacionados à mediação de leitura e contação de histórias. A visita técnica a este espaço contribuiu para entendermos as possibilidades de implantação no preparo técnico e também nas ações culturais desenvolvidas a partir dos nossos acervos e ainda, verificarmos a realidade de uma biblioteca finalista de prêmios internacionais.

Para finalizar as visitas, no dia 11/08, conhecemos o espaço cultural Farol Santander. O prédio conta com 26 andares, com várias exposições de arte. A exposição principal sob a qual nos debruçamos foi “As aventuras de Alice”, baseada na obra Alice no País das Maravilhas de Lewis Caroll. Sob a curadoria de Rodrigo Gontijo, a exposição reúne mais de 100 itens relacionados ao universo do livro, em uma área de 600m². No primeiro piso somos convidados a visitar o que lembra a “vida real”. Foi possível conhecer mais sobre a trajetória de Lewis Carroll e de Alice Liddell, a menina que inspirou a personagem. Há diversas versões do livro, documentos históricos, peças artísticas. Na sequência pudemos observar o funcionamento de objetos utilizados na fase pré cinema, como estereoscópio (exibe imagens tridimensionais) e lanterna mágica (uma espécie de projetor do século XVII). No próximo andar adentramos a Toca do Coelho, com a queda de Alice através de cenas em 3D. É nesse andar que temos o chá maluco e ainda um espaço dedicado à Rainha de Copas. A exposição tem uma bela curadoria, aprofundando nossos conhecimentos e trazendo muitos detalhes a respeito dessa obra que marca tantos imaginários e que mediamos para os estudantes da Rede Municipal de Ensino em diferentes ocasiões.

Para Cristiane Aparecida Luquetta da equipe de Projetos da Gerência de Faróis do Saber e Bibliotecas:

“A oportunidade de uma formação profissional que amplie nossos horizontes por meio de aulas de campo trouxe novos conhecimentos e ideias que podem ser pensadas para a biblioteca, tanto abarcando recursos tecnológicos, como artísticos. Vivenciar, experimentar, olhar para o novo sob diferentes perspectivas é isso que nos marca, ou como traz Jorge Larossa no conceito de experiência, é o que nos passa, nos atravessa, é o que fica. É assim também nas propostas que fazemos aos estudantes da Rede Municipal de Ensino, as aprendizagens são marcadas pelo protagonismo e pelas oportunidades. Para a SME, esta ação contribui no sentido de que os profissionais se atualizam em relação a suas práticas, melhorando o atendimento aos cidadãos e ainda, tornando a biblioteca cada vez mais um espaço democrático, acessível e dialógico”.

Autor: Cristiane Aparecida Luquetta | Fonte: Gerência de Faróis do Saber e Bibliotecas
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