AO NOS ABRIMOS AO DIFERENTE, NOS TORNAMOS IGUAIS!

    Publicado por:  Caroline Kupczki Krezko

“Mire e veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas...” (Mantoan, 2001).

 

A melhor forma de conhecer o outro a outra é sentar-se “lado a lado”, “frente a frente”, “olhos nos olhos” e então conversar; ainda que para alguns/as a forma de comunicação seja na linguagem de sinais. O preconceito só vai deixar de existir quando se conhecer o conceito. Quando as pessoas souberem o significado de ser diferente, de ter um filho, uma filha, um familiar com deficiência, conhecer as capacidades e limitações de ter Síndrome de Down, Espectro Altista, Paralisia Cerebral, como é ser surdo vivendo entre os ouvintes, ou chegar em um país estranho sem conhecer a língua, a cultura do povo.

O CMEI Dr. Eraldo Kuster tem matriculadas duas crianças com Síndrome de Down, uma criança de Espectro Altistas, uma criança com Paralisia Cerebral, duas crianças, cujos pais e mães são surdos, cinco crianças haitianas e uma peruana.

Tendo como princípio de que as Histórias familiares devem nortear as ações cotidianas da unidade; as famílias com filhos de inclusão e famílias de inclusão foram convidadas a sentar-se lado a lado e assim mediadas pela gestora e pedagoga da unidade e profissionais especialistas parceiros, relatarem suas histórias. As famílias oportunamente falaram de suas experiências; os desafios e angústias, principalmente em relação aceitação dos filhos na sociedade e as alegrias e sentimentos de afetos pelos filhos, que de nada difere de outros pais.

 

A parceria contou com a presença da Bianca do DIAEE; a acadêmica Gessica do curso de psicologia da Uniandrade, a pedagoga Valquíria do CMEI Vó Ana e da EM Leonel Brizola que foi interprete em LIBRAS e teve o apoio da Ariadner, mãe de duas crianças do CMEI, que nos auxilia em algumas situações como interprete; a pedagoga Cleonice do CMEI São Carlos, com propriedade falou como mãe do Davi que tem Síndrome de Down e sua larga experiência como pedagoga nos encaminhamentos a crianças com deficiência; a Lilian mãe do Pedro  de Espectro Altista e presidente da Ong Anjo Azul falou dos caminhos até chegar ao diagnóstico do Pedro, a aceitação dela e dos familiares e depois a luta em defesa dos direitos de seu filho e de todas as crianças com deficiência. Os pais surdos mediados pela profissional de LIBRAS falaram sobre a experiência de ter filhos ouvintes e as ações realizadas para inseri-los no CMEI e na sociedade e a dificuldade na comunicação numa sociedade que não domina a linguagem de sinais; as mães do Enzo e do Lucas ambos com Síndrome de Down da mesma forma falaram das dificuldades e privilégios de ter filhos com deficiência; a mãe do Rafhael com Paralisia Cerebral emocionou a todos com sua história dramática até chegar ao diagnóstico; depois a incansável busca na garantia dos direitos do Rafhael e a grandeza de conviver com a ternura de seu filho.

Fato, as crianças com deficiência independentemente de suas condições físicas, sensoriais, cognitivas, emocionais, têm as mesmas necessidades básicas, desejos e sentimentos das outras crianças. Elas têm possibilidade de conviver, interagir, trocar, aprender, brincar e ser felizes, embora, algumas vezes, de forma diferente. (PPP, KUSTER, 2016).

A experiência marcou e construiu conceitos proporcionando grandes aprendizados a todos (as) que participaram desse momento ímpar.

O próximo encontro vai acontecer com uma troca de experiência entre todas as famílias; em que serão priorizados os relatos das famílias de inclusão para que as demais famílias conheçam suas histórias. 

A partir do momento em que todas as famílias, todas as pessoas conhecerem os conceitos, não vai mais existir o preconceito, que na maioria das vezes não são maldosos apenas equivocados.

 

Não é cor da minha pela, as minhas características físicas, cognitivas que vão dizer quem sou e sim o que passa no coração.

A minha aparência, o meu saber, não me torna melhor ou pior apenas diferente.

Somos diferentes nas características, concepções, porém iguais na dignidade; somos todos seres humanos!

 

O QUE SIGNIFICA TER FILHO COM DEFICIENCIA, SER UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, OU SER UM ESTRANGEIRO EM UM PAÍS?

A melhor forma de aceitar e ser aceito, de derrubar preconceitos é conhecendo os conceitos;

É saber o que passa na mente, no coração das pessoas; conhecendo as habilidades e limitações, conhecer os sentimentos;

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade!”. (DDH, 1148). Esta afirmação já está posta na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

 As minhas características físicas, a cor da minha pele, o idioma que falo, a minha inteligência, As diferenças entre os seres humanos não os tornam melhores ou piores, apenas diferentes. E, na maioria das vezes, essas diferenças somam, são complementos na vida de um, de uma e de outro, outra.

A não capacidade em desenvolver algumas habilidades, não significa que a pessoa é incapaz; dentro de suas possibilidades, ela irá desenvolver suas habilidades, competências. E quanto antes buscar atendimentos maiores serão os ganhos.  Outro fator importante é à percepção de que a não capacidade de exercer determinadas habilidades, ou não ter compreensão de alguns conceitos, não torna essa pessoa menos feliz do que a pessoa que tem essas habilidades e entendimento.   

Tendemos a julgar o significado de felicidade, a partir de nossa história de vida, das nossas capacidades. Erroneamente acreditamos que aqueles que não têm as mesmas capacidades que nós não são felizes!

Seria possível, sentir falta do que não conhecemos? Ainda que conhecessem podemos buscar outros mecanismos de compensação. 

Os pássaros sabem voar e para nós, seres humanos, parece tão bom voar.  Mas o fato de não sabermos voar não nos tornam infelizes.  Às vezes quando estamos em um trânsitos intenso, ou temos que caminhar muito, até gostaríamos de ter essa capacidade, ou que o nossa carro tivesse a função de levantar voo. Nos estressamos no trânsito, mas tal realidade não significa infelicidade. 

E essa não habilidade de voar não nos tornam melhor ou pior do que os pássaros.

Não voamos, mas temos outras capacidades que os pássaros não têm, como a função da fala, da escrita, poder abraçar. E é tão bom abraçar...

A partir do momento que aceitamos as nossas limitações e deixamos que outros façam por nós, aquilo que não conseguimos fazer, ou construímos coisas para fazer por nós, construímos aviões para voar, a vida se torna bem mais feliz.

Foi esse o conselho que o palestrante australiano, que nasceu sem os braços e as pernas consequência de uma síndrome rara, deu a um menino que nasceu em condições semelhantes as suas. (Programa Luciano Huck,  exibido - 12/2016).

Todos nós temos limitações, eu, por exemplo, não enxergo direito, tenho uma memória péssima. Não tenho que me envergonhar por isso. Mas não posso me acomodar, uso a agenda, óculos.

E quando a pessoa não tem capacidade de buscar os mecanismos, por exemplo, uma criança pequena, uma pessoa com deficiência específica, é necessário que outros busquem os meios a fim de suprir as limitações. O bebê enquanto não consegue andar, os pais o carregam.  É um pouquinho sofrido passar de uma fase para outra, aprender a andar, falar. No entanto, tal condição não significa infelicidade. Assim como não é uma infelicidade ter um cromossomo 21 a mais, a Síndrome de Down, ter Espectro Altista, Paralisia Cerebral, ser surdo, são  apenas características da pessoa. É uma condição genética, com necessidades específicas. Assim como ser estrangeira, estrangeiro em um país, é uma condição, que no primeiro memento assusta, mas depois as coisas se ajeitam.  Nós enquanto pais, mães, profissionais da educação, especial itas, poder público, sociedade civil temos o compromisso de ser as mãos, os pés, os braços, a vós, o cognitivo, o porto seguro da criança, do adulto, adulta que tem determinada deficiência e acolher.

Depois quando convivemos com uma pessoas com deficiências, ou de outras culturas, desperta o melhor de nós mesmos, o melhor de nossa essência.

 A resposta para explicar é simples. O princípio da equidade. Precisamos cuidar mais, proteger mais, estar mais por perto para promover a igualdade de condições de direitos. As ações de cuidados estão ligadas ao afeto, a ternura.

Sendo assim, quanto mais cuidamos, mais ternos, sensíveis, amorosos, humanizados nós somos. Basta pensar na relação dos adultos com as crianças pequenas. Ela é cercada de amor, de ternura, exatamente pela relação de cuidar e ser cuidado. A sensação de ser cuidado por alguém é carrega de ternura de amor próprio, autoestima, talvez a melhor sensação que podemos sentir. E nós nos enchemos de amor por  àqueles que cuidamos.

Portanto ter um filho, filha com deficiência específica é um privilégio. Por mais que queremos cuidar de nossos filhos durante toda a vida, chega uma hora que eles dispensam os nossos cuidados, já a pessoa com necessidade específica, o cuidado é maior e mais duradouro e muitos casos é pela vida toda.

 A relação terna e afetiva, que normalmente ocorre com mais intensidade na primeira fase da vida, segue em período maior, dando a oportunidade de sermos melhor enquanto pessoas.

Claro que é desafiador são tantos atendimentos e cuidados. A vida talvez  exija um pouco mais de um e de outro, mas são desafios realizáveis, passíveis de acontecer.

Portanto, Bruna você é privilegiada por ter o Enzo em sua vida. Ele que tem Síndrome de Down, como diz a professora Meliane, uma criança bem resolvida, que sabe o que quer e o que não quer e é cercado de amor e cuidados pelos colegas; A mãe e pai e irmãs do Lucas são privilegiados por ter o Lucas, também com Síndrome de Down, uma criança alegre, independente, foi mais precoce que os amigos ao sair das fraldas, também protegido pelos colegas, A Lilian e o pai, são privilegiados pelo, como diz a mamãe o seu Anjo Azul, Pedro com espectro altista, o faz enxergar o mundo de um jeito diferente, seletivo nas escolhas, adora cantar e claro que é também protegido pelos colegas; agora aqui há uma inversão, a dócil Katherine que é privilegiada por ter a mãe Rosilene e o pai Jaime que são surdos, dando a ela a capacidade da linguagem dos sinais e de ser a voz dos pais; a Laura, decidida e exigente também tem o privilégio de ter o pai João Marcos e a mãe Wandressa também surdos e quando o pai chega ela fecha a mãozinha ela passa no rosto para dizer que as professoras que o pai chegou e o Rafhael, que ao sorrir, abre aquela boca gostosa, de sorriso largo, e sorri com o rosto inteiro, ao olhar para ele o coração se enche de ternura; inteligente, entende tudo que falamos e responde com expressão, olhar, sorriso. É desafiador ao familiares do Rafhael e a toda equipe da unidade, aos profissionais que o atende promover as condições de igualdade, ajudá-lo a se desenvolver o seu máximo. O fato do Rafael não poder andar, falar, comer sozinho não o torna infeliz. Nós somos a sua extensão. E o Rubens, o Snayli, o Jerry, o Marlwe, o Stevens chegaram bebês aqui, filhos de estrangeiros, quanta insegurança as mães sentiram no início; deixar o seu maior bem nas mãos de pessoas que sequer conseguiam conversar. Mas que hoje estão super bem, que adoravelmente misturam um português com crioullo, um crioullês, talvez e são extremamente amadas pelos colegas e por toda equipe do CMEI. E o mesmo acontece com o pequeno Thiago, o nosso peruano, que chegou tão inseguro e ainda faz charme na porta, para dizer ao papai e a mãe, eu te amo. Mas durante o dia passa super bem.

E nós do CMEI Dr. Eraldo Kuster e todas as famílias do CMEI somos privilegiados, privilegiadas, pela oportunidade de todos os dias nos tornamos melhor enquanto ser humano; depois ser feliz, não é condição, é escolha. Nós e vocês escolheram serem felizes!

 

 

Autor: Dr. Eraldo Kuster, CMEI | Fonte: Ivete Bussolo
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